Caderno da Periferia Brasileira de Letras
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Sobre o Caderno
A Periferia Brasileira de Letras (PBL) é o nome da rede composta por 13 coletivos literários que atuam em periferias e favelas brasileiras. Iniciativa da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, a PBL está presente em oito regiões metropolitanas do Brasil e lançou, nesta quinta-feira (8/9), o primeiro volume do Caderno Periferia Brasileira de Letras: O processo de criação de políticas públicas saudáveis. Nele, constam os resultados do levantamento Coletivos Literários nas Periferias Brasileiras: Um retrato; relatos dos coletivos sobre a experiência dos Círculos Metropolitanos, do processo de formação à distância; e indicações das próximas etapas do projeto.
A etapa inicial se deu com a chamada pública para seleção de coletivos literários localizados em periferias de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, que participaram da formação intitulada Promoção da Literatura em Periferias: Curso de Territorialização de Políticas Públicas Saudáveis, com conteúdos que iam da Promoção da Saúde ao Direito à cidade, com a imersão sobre o percurso específico das políticas públicas do livro, leitura, escrita, literatura e bibliotecas no Brasil.
A partir daí, se iniciaram as práticas de mobilização e também de produção de diagnóstico sócio territorial: primeiro a circulação de um formulário da pesquisa Coletivos Literários nas Periferias Brasileiras: Um retrato, que os coletivos da PBL conseguiram 156 respostas de outros coletivos literários também atuantes em periferias; depois, os Círculos Metropolitanos, quando através de encontros regionais virtuais, os 13 coletivos da PBL tiveram momentos para escuta, diálogo, participação coletiva com outros coletivos através da apresentação dos resultados do levantamento. Esses encontros tiveram como objetivo debater propostas de políticas públicas territorializadas relacionadas à literatura e à saúde.
Políticas públicas, literatura e saúde
O objetivo principal da PBL é estimular a construção de políticas públicas relacionadas ao campo do livro, leitura e literatura, bem como aquelas voltadas às demandas próprias de territórios empobrecidos de centros urbanos no intuito de melhorar as condições de vida e de saúde. Para Felipe Eugênio, mestre em ciência da arte e pesquisador da Cooperação Social da Fiocruz, a literatura, da forma como é vivida por esses grupos, coloca em pauta mudanças necessárias para sanar ou mitigar inúmeros problemas sociais, políticos e econômicos que marcam a vida das camadas populares.
“As experiências coletivas ao redor da palavra poética têm enorme importância para territórios de favela e periferias: com regularidade elas vêm mobilizando práticas de formação cidadão entre dezenas a centenas de pessoas”, afirma Eugênio, que coordena, além da PBL, o Ecomuseu da Manguinhos do Espaço Casa Viva/ Redeccap, na favela de Manguinhos, zona Norte do Rio de Janeiro.
Distante dos rigores e dos espaços elitizados de produção de conhecimento, cabem na Periferia Brasileira de Letras diversos modos de produzir literatura e mobilizar pessoas: os saraus poéticos, as bibliotecas comunitárias, as rodas de leitura, os slams, as editoras e selos independentes, os mutirões de cartoneira, os festivais literários, os grupos de teatro de rua, as residências de ficção e as rodas de leitura.
“Todos esses são modos de organização que, de maneiras distintas estabelecem nas periferias uma pulsação cultural. No lugar dos estigmas da violência e da criminalização da pobreza, torna-se possível associar as favelas à produção de conhecimento (lírico, ensaístico, dramatúrgico, político, dentro e fora das letras), tratando de questões tanto locais quanto do mundo”, explica Mariane Martins, formada em Filosofia e também coordenadora da PBL, na Cooperação Social da Fiocruz.